segunda-feira, 18 de junho de 2012

NA SECA DE 1932


No inverno de 1931 choveu pouco e houve, portanto, baixa produção de cereais.
Por isso, a seca de 1932 pegou o sertão com pouquíssima água nos mananciais e quase nenhuma reserva de alimentos.
A Catástrofe mostrou sua cara logo nos primeiros meses daquele ano horrendo.
Os velhos caminhos coloniais, ainda alheios à existência de automóveis, se encheram de famintos em buscas de qualquer possibilidade de socorro.
O desespero desenraizava o homem da terra e foi do desespero que nasceu o açude Lima Campos, construido com uma mão-de-obra que não reivindicava outra coisa a não ser um prato de comida para não morrer de fome.
O IFOCS - Inspetoria Federal de Obras Contra a Secas desengavetou os empoeirados projetos elaborados em 1912 e 1913.
Rapidamente corrigiu o principal problema técnico que adiara por tantos anos a construção do açude, reduzindo a capacidade de armazenamento de água para 60 milhões de metros cúbicos, a metade do quew previa o projeto original, uma capacidade compatível com o potencial hídrico da bacia do rio São João.
E movido pela a urgência que atropela a burocracia, arregaçou as mangas e partiu para realizar a obra imediatamente.
Ainda em abril daquele ano começou o alistamento de flagelados para realizar a obra.
Na estação de trens de Água Verde, relativamente próxima do Estreito, foram despejados milhares de famintos. Procediam das localidades de Buriti e Carius, onde aos boatos de que ali seriam construídos açudes ajuntaram-se flagelados das mais diversas plagas sertanejas.
Eram na maioria descendente de índios e negros os mais susceptíveis aos efeitos danosos das secas.
Em um Brasil ainda profundamente marcado pela lógica brutal do colonizador e de seus descendentes, essas pessoas foram conduzidas nos trens em vagões fechados, como se fossem animais, ante a indiferença quanto a se possuíam ou não água para beber e comida para comer.
Algo muito parecido ao que hoje muitos vemos em filmes: o transporte de judeus em trens para os campos de concentração nazista.
No local da obra, continuava o mesmo calvário.
Os flagelados eram postos em abrigos coletivos cobertos de palha ou de zinco.
Eles faziam suas necessidades fisiológicas em grandes buracos cavados para tal fim, reinava no grande acampamento, uma promiscuidade apocalíptica, agravada, cada vez mais na medida em que chegavam mais e mais flagelados, seja de trem ou de caminhando procedentes de confins assolados pela seca.
De início, o alistamento era criterioso, conforme as necessidades do projeto, mas depois, devido à enorme afluência de flagelados, todos eram alistados, serviço não faltava, porque além do açude, era necessário transformar os antigos caminhos coloniais do município de Icó em estrads para os caminhões que trariam cimento e ferramentas de trabalho.
Tanta gente amontoada em condições tão precárias fez surgir epidemias de tifo e paratifo.
Um médico, um farmacêutico e enfermeiros.
Eles atendiam apenas os casos mais grande quantidade, que nunca foram contadas, e que aconteciam a cada dia que Deus dava, até que a epidemia fio debelada.
O santo evocado como protetor contra as epidemias, São Sebastião, é o padroeiro da vila Lima Campos.
Sabe-se que a escolha desse santo padroeiro, nos tempos da construção do açude, foi iniciativa da esposa do responsável pela a obra.
Ela ao que parece pretendia vincular o nome do marido, Sebastião de Abreu, à devoção daquela comunidade.
Foi Sebastião de Abreu que construiu a capela consagrada ao santo que hoje é ensejo para a festa religiosa que acontece anualmente a cada mês de janeiro, festas que atrai gente do Icó e dos sítios e fazendas da circunvizinhança.
Uma festa comovente pelo fervor místico e pelas emoções que desperta.

"... Foi imcumbido da construção do açude o grande prático de construções de açudes.
Sebastião de Abreu, qual chegava ali na casa grande da fazenda Estreito, no dia 13 de abril de 1932, em um dia de quarta-feira às 09 horas da manhã. Instalaram-se e imediatamente iniciaram o alistamento para atender cerca de 3.000 pessoas que já aguardavam socorro.
No momento não foram alistado todos quantos estavam ali, bem como os que chegavam de instante a instante.
O encarregado da obra, para normalizar a situação, mandou colocar um enorme curral de cuja abertura única os flagelados saíam, um a mil réis para sua manutenção isso se manteve por vários dias ou meses.
Até que as encomendas de ferramentas feitas no sul do país ou na América do Norte fossem recebidas.

(LIMA.Miguel Porfírio.Historia da Construção do Açude Público Lima Campos em Icó- Ceará, na História das Seca de 1932.Icó DNOCS.1998.)

Extraìdo do livro: Bem Vindo ao Reino do Louro e da Peixada. (José Mapurunga)

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